quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O POETA (parte 1)

Bem... vou começar a postar aqui outro conto que fiz tempos atrás (para não se falar de anos). Este conto se refere a um personagem fictício, chamado Vinícius, um poeta angustiado, e seu amor, Clara, vivendo dias tortuosos de um grande conflito interior. A história se divide em cinco partes, sendo publicadas aqui aos poucos (postagens por vez). Qualque esquecimento e atraso de minha parte, cobrem-me!!!


Sem mais delongas... segue!


O Poeta


I


            Estava a fitá-lo intensamente, como quem desafia ou cobra uma resposta urgente. Assim era o caráter de seu olhar. Olhava-se com tamanha fúria e veemência, que podia assustar-se, ou mesmo, enfartar. Afinal era essa a sua idéia, caso não tivesse apenas vinte e cinco anos de idade e uma vida regrada aos mais rigorosos cuidados com a saúde.
            O quarto vazio e bagunçado (não haveria outra condição) denunciava um morador com problemas. A cama estava cheia de lençóis não dobrados, jeito de não ser arrumada há mais de dias. Recostado no canto oposto, encontramos a escrivaninha, local de estudo e trabalho. Local de suas maiores torturas. Um jogo de livros – didáticos e não didáticos – enfeitavam-na, bem como envelopes do que outrora eram resmas de papel. Agora, as quase mil folhas encontravam-se queimadas, jogadas no lixo ou atiradas ao chão.
            Vinícius encarava-se diante do espelho do guarda-roupa, esperando algo do seu eu refletido. Uma lágrima solitária que escorria denunciava o seu insucesso. Ele fechou com força a porta e correu para a cama, escondendo-se sob os lençóis.
            — Maldição!!! — berrou, assustadoramente.
            Ergueu o corpo quase morto, prostrando-se sentado com a cabeça pendida, segura pelas duas mãos.
            — Maldição! — tornou a repetir. — Como poderei viver assim? Insuportável a dor que me consome, que me dilacera. Um bilhão de maldições foram jogadas contra mim. Só pode! Secaram-me completamente, vil servo… Ó, Senhor, tende piedade!… — E volta a desabar, duma só vez, cerrando os olhos e cantarolando músicas desconexas. — Pobre de mim… pobre de mim… Talvez seja a morte o meu único acalento…
            Finalmente, dormiu.

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