domingo, 21 de novembro de 2010

MEMÓRIAS SUJAS (parte 1)

O conto que vou começar a postar foi um dos primeiros que fiz em minha curta carreira como escritor. Devo frisar que contos não são meus fortes, porém são mais práticos, e de rápido desenvolvimento e conclusão. Ele foi escrito de forma contínua, e não em partes como o conto "o poeta". Contudo, para facilitar a leiturar (e criar expectativa, claro!), irei dividi-lo em partes. Sem mais delongas, segue...


Memórias Sujas

 

            Sinto-me tão só! O corpo dolorido me faz querer ficar na cama mais umas horas. É impossível! Não me posso dar o luxo de chegar atrasado na repartição pelo terceiro dia consecutivo. Definitivamente não posso mais ficar acordado durante toda a madrugada, preso ao vício da internet.
            Pela janela do quarto vejo que o sol vai alto, provavelmente seriam mais de oito horas. Ah! Levanto-me com a dificuldade de quem levanta uma tonelada. Passa das oito e meia. Mais um dia com menos quatro horas de sono. Desse jeito, vou-me acabar.
            O chuveiro me acorda, a água gélida agride meus ossos e minha carne. Por que todo o meu corpo dói? Mais parece que levei uma surra. A zonzeira continua, os meus reflexos estão lentos, choco-me contra a pia do banheiro e a dor não é maior do que a que eu sentia.
            A cozinha cheira a podre (alguém já viu coisa podre cheirar?) Fede! Não me lembro de ter deixado tudo tão desarrumado; as minhas memórias estão vagas e não faço a mínima questão, agora, de lembrar qualquer coisa. Mas o que faz feder tanto assim? Havia muitas moscas, sobre a pia apenas copos sujos, pratos sujos, facas sujas… Será que fiz algo para jantar e não me lembro? Sobre o fogão, três panelas tampadas. Destampo-as… Ah! O vômito vem-me à boca instantaneamente, mal dá tempo de correr para a pia. Nossa, tem algo podre naquelas panelas. Volto, com uma toalha no rosto, e vejo que esqueci as carnes na panela e elas apodreceram. Acho que me recordo, ontem tratei carne, isso explica as facas sujas e sangue no balcão. Mas estragariam com tão pouco tempo? Arrumo sacos plásticos de lixo e despejo o conteúdo das panelas neles. Amarro-os bem e os coloco junto à porta da cozinha. A próxima providência é desinfetar todo o ambiente. É o jeito, chegarei atrasado mais um dia… Paciência! mas não posso deixar meu apartamento naquele estado.
            Em menos de uma hora a cozinha está limpa novamente, o odor fétido foi-se quase inteiramente, ficando apenas o aroma de lavanda do detergente que utilizei. Percorro os outros cômodos do apartamento, em busca de mais sujeira. A bagunça da casa era natural, resolvo dar um jeito em tudo, e arrumo tudo com uma disposição poucas vezes vista. Deixaria para ir ao trabalho à tarde, após o almoço, e com o espírito pronto para as broncas do chefe.
            Passa um pouco do meio-dia quando desabo no sofá com uma xícara de café na mão. Percebo que a secretária eletrônica está repleta de recados. Mas como, se sempre escuto os recados antes de dormir? Além de tudo, é estranho eu não ter ouvido o telefone tocar durante a noite. Aciono o botão, busco o último recado. A voz era grave, rouca, conhecida, do meu chefe:
            — Gustavo? Sou eu, você deve saber… Escuta aqui, rapaz, é a última vez que ligo para você. A última, entendeu? É definitivo! Passe, quando resolver voltar, no meu escritório… Ah, e tem mais: não me venha com desculpas mirabolantes não, uma semana sem aparecer é justa causa!
            A fita para e fico atônito. Retrocedo e encontro dezenas de recados, todos dando pela minha falta. Falta? Se ontem mesmo fui ao trabalho. Ligo o computador, está lá: quinta-feira, 27 de setembro… Como?! Se ontem foi terça. Será que dormi um dia inteiro? Entro na minha pasta, sei que baixei um programa da internet, ontem de madrugada, e tem registrado a data. Aqui, terça-feira, 18, 00:42. Mas… pensei que tinha sido hoje, de madrugada… Mas como? Semana passada? Minha cabeça não compreende, e começa a doer, algo de estranho, muito estranho…
            Vou ao meu quarto, uma camada de poeira cobre a cômoda, como se a não usasse há dias. Olho em volta e não vejo nada, não enxergo nenhuma explicação, nada que me possa esclarecer as idéias. Tenho a lembrança viva, ontem foi terça, e entrei na internet durante a madrugada, deveria ter registrado quarta. Mas não há registro. Cheguei atrasado na segunda, na terça e hoje… mas hoje é quinta, uma semana depois. Não entendo, agora é meu corpo que dói. Deito-me na cama e fecho os olhos, não posso perder o emprego, é o quarto neste ano. É melhor dormir, talvez relaxando eu consiga encontrar alguma explicação para tudo isto.

2 comentários:

Márlon Soares disse...

Ricarrrdo!

Estou curioso pelo resto. Logo, acho que vocë escreve bem mesmo. Escrita tem haver com vontade de ler mais, não é?

O que é o seu forte?

Abraço
Márlon

Danila disse...

RicaRRRRdo... ia escrever o que o Márlon já escreveu!!!!!!!
Quero muito saber o fim......
Vai postando!!!
Beijo!